Este conjunto de quatro casas nasce de uma investigação sobre a variação tipológica a partir de um “protótipo”, a Casa Equis (2003), situada na mesma baía. Com o crescente adensamento de construções na praia La Escondida, operamos com o tempo na costa peruana, testando o protótipo segundo as circunstâncias de uso, de situação especifica e as aspirações dos seus moradores.
As casas não foram projetadas como um conjunto, prologando-se em um período de três anos, elas formam um conjunto compacto e coerente por encontrarem-se em lotes vizinhos e por procederem de um mesmo “protótipo”. Elas formam parte de um único laboratório de investigação projetual sobre as qualidades de habitação que oferece o deserto peruano.
As casas exploram assim o conceito de “Praia Artificial”, em um clima ameno, sem calor ou frio, sem ventos e sem chuva, e nos permitem imaginar que a arquitetura aqui foi despojada de seu papel de abrigo, de criar intimidade e de celebrar o prazer de viver.
Uma série de espaços fluídos e abertos é definida por um grande pátio e uma plataforma, dois dispositivos arquitetônicos que estas casas compartem com as edificações pré-colombianas peruanas. Relacionam-se ao mar e ao horizonte através de uma piscina que convida a paisagem marinha a compartilhar a intimidade do pátio.
Em cada uma das habitações acessa-se o pátio por uma/um soleira/limiar(umbral) que une e separa dois espaços exteriores: o espaço infinito do deserto e o espaço íntimo da residência.
Escadas abertas generosas são esculpidas nas plataformas, unindo as praias artificiais com o nível dos dormitórios. As plataformas habitadas interligam-se por pátios e corredores que correm entre as casas, como rachaduras no solo, reforçando a idéia de a casa de praia como um lugar de vida predominantemente “ao ar livre”, em comunhão com a natureza, mas resguardado do sol.
A construção pré-colombiana da costa, onde as paredes de adobe parecem surgir do solo como um extrudamento do deserto, traduz-se na utilização do concreto armado aparente, usando fôrmas de tábuas rústicas, que dá a impressão de volumes extraídos diretamente da falésia.
A utilização de cores ocre-areia tem também esse objetivo e evita o desgaste visual do edifício devido a grande quantidade de pó que o vento do deserto impregna nas construções.
A alta qualidade da mão-de-obra artesanal que existe no lugar permite cruzar tecnologias arcaicas e industriais, ajudando a abstração formal em sua busca por “destemporalizar” as construções e em sua aspiração de integrar-se a paisagem cultural milenária da costa desértica peruana.